Içami
Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta
Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros
Está cada vez mais difícil ser um
bom professor no Brasil. Bom professor no sentido do verdadeiro educador, como
aquele que tudo faz para que o seu aluno melhore, e não aquele que o usa para
auferir benefícios próprios, como bens, ficar rico, famoso, poderoso etc. O
verdadeiro educador trabalha para que o aluno aprenda e melhore a sua própria
vida.
Hoje, se a educação fosse um trem,
poderíamos dizer que há algumas realizando heroicas diligências, outras como
modernos trens, mas nenhuma delas tão avançada quanto a tecnologia e os
conhecimentos existentes, ou como são algumas empresas.César Souza, grande
executivo internacional, no seu recentemente lançado livro “A
NeoEmpresa”(Integrare Business) faz uma ótima analogia: “um trem bala em
uma montanha russa”. Isto, em grande parte, porque o Brasil é um país
rico com educação paupérrima.
A realização dessas diligências nos
mostra o quão fora de época se encontram algumas das heroicas escolas, pois
andam em locais sem trilhos, usando das energias humanas dos professores, sem
nenhum recurso a não ser o conhecimento e vontade de ensinar. Não há como estes
educadores não perceberem os problemas que os alunos vivem, pois os
relacionamentos são pessoais, um olhar nos olhos dos seus alunos, que agradecem
qualquer aprendizado. São heroicos pois abrem novos caminhos e criam soluções.
Os trens públicos são verdadeiras
marias-fumaça públicas, com vagões e trilhos precários, que precisam de
constantes reparos para funcionar. Os trens privados podem ser até mais
atualizados e melhores equipados, mas seus princípios pedagógicos ainda estão
muito defasados perto do que poderiam ser e mesmo os seus alunos estão ainda
muito aquém do que se espera após um ensino fundamental e médio.
Dia 14/4 fui palestrar aos
professores de Tapiraí, onde nasci, a 135km de São Paulo, no Vale do Ribeira,um
município que tem 8.500 habitantes. São 2.000 alunos para frequentar três
escolas: duas municipais e uma estadual. As municipais estão organizadas e os
seus 1.000 alunos têm suas aulas regularmente. A estadual também tem 1.000
alunos e atende da 5ªsérie do Ensino Fundamental até o 3º ano, mas há muita
falta de professores titulares e os que trabalham são os eventuais e, quando
faltam, os alunos contam com os professores nomeados eventuais dos eventuais.
Houve um ano, por exemplo, no qual de uma só matéria não houve uma única aula,
e os alunos foram todos aprovados.
O trilho existe, mas a maria-fumaça
está praticamente parada. Alguns alunos têm ex-pais que largaram as mães que
têm que lutar pela sobrevivência. Só um exemplo em entre muitas famílias que
são desestruturadas, cujos adultos vivem em conflitos e vícios e seus filhos
“já fazem muito em ir para escola”...
Acredito que os professores até têm
como identificar, dentro da sala de aula, um aluno doente, deprimido ou
emocionalmente abalado. Mas ajudá-los pode se tornar uma sobrecarga às tarefas
que já têm, o que prejudicaria a sua vida pessoal e familiar. Além disso, a
própria família do aluno acaba responsabilizando a escola pelos problemas que
ele apresenta.
A grande maioria dos professores
públicos é desassistida. Quando assistidos (como nos trens particulares), os
professores já têm orientações para passaremos problemas que os alunos estão
tendo à coordenação. Entretanto, algumas destas famílias cobram que as escolas
tomem as devidas providências, pois terceirizam-lhe a educação.
O grande problema é que a maioria
dos alunos no Brasil é prejudicada no seu aprendizado e negligenciada na sua
educação e saúde.
Fonte: UOL
Educação – Coluna Içami Tiba
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